
Não é novidade para ninguém que o Brega desponta, entre os vários gêneros musicais, como um dos que mais tocam fundo a alma dos brasileiros. Embora seja mais curtido no Norte e Nordeste, espraia-se pelas demais regiões do país. Caracterizado por letras exageradamente românticas, linguagem ível e ritmo comado, o estilo caiu no gosto popular. Independente de classe social, todos amam, cantam, bebem e dançam embalados pelos grandes sucessos de seus ídolos. No Pará, o Brega destaca-se como patrimônio cultural imaterial, enquanto Recife aparece como a “Capital do Brega” por ser o ritmo favorito de 34% dos habitantes da cidade.
Talvez seja novidade para muita gente que, em maio de 2025, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a lei que celebra, anualmente, o Dia Nacional do Brega. A data definida foi 14 de fevereiro, em homenagem a Reginaldo Rossi, dia do nascimento do cantor pernambucano, intérprete de sucessos antológicos do gênero, como Garçom e Em plena lua de mel. O projeto é de autoria de Pedro Campos, deputado e líder do PSB. Era uma antiga reivindicação dos fãs dessa batida romântica. Antes já era uma festança em bares e casas de espetáculos do país, imagina agora – tendo uma data específica– com a aprovação do Congresso e a sanção do presidente.
O saudoso Reginaldo Rossi, o Rei do BregaAtira a primeira pedra quem nunca, ao mergulharnumalouca paixão, se deixou levar pelos seguintes versos do trovador recifense: “Saiba que o meu grande amor/Hoje vai se casar/Mandou uma carta pra me avisar/Deixou em pedaços meu coração/E para matar a tristeza/Só mesa de bar/Quero tomar todas/Vou me embriagar”. E tome bebida, saudades, alegria e tristeza, lembranças e, acredite se quiser, vontade danada de morrer por amor. No ado, ligado à cafonice, ao mau gosto e falta de elegância, hoje o Brega é abraçado sem preconceito e tido, pelas novas gerações, como um estilo cult. Afinal, como diria Odair José, "Eu vou tirar você desse lugar/ Eu vou levar você para ficar comigo/ E não interessa o que os outros vão pensar".
E pensar que, em 2024, celebramos, na Balada Literária, o Brega como tema do evento. Relembrando às pessoas, inclusive, a censura e a perseguição que alguns de seus intérpretes sofreram durante a ditadura militar. Entre eles, destacam-se Waldick Soriano, Agnaldo Timóteo e Odair José, cantores populares que chegam aos interiores e às periferias das cidades. Para ilustrar, fiquemos com o exemplo de Em qualquer lugar, música de Odair José, proibida integralmente por conter, segundo os censores, “atitudes comportamentais alusivas ao desejo sexual”. Realizada em São Paulo, Salvador, Teresina e Recife, a Balada foi um estouro de sucesso. Agora, finalmente,temos o Dia Nacional do Brega, e podemos dizer que os curadores do evento –Marcelino Freire, Nelson Maca, Auríbio Farias e eu – fomos uns visionários?
